2006-09-25

A artereosclerose do voluntariado.

Estas férias - quando nos deu jeito - demos um apoio a uma instituição de acção social latu sensu.

Foi importante, útil e meritório. Mas hoje fiquei a saber que essa instituição está neste momento com necessidades de pessoal que obriga os seus funcionários a acumularem dois e três turnos. Isto fez-me pensar.

É que às vezes as nossas acções de voluntariado são um pouco como dar uma sobremesa a quem acabou de comer.
A utilidade marginal é reduzida e provavelmente o excesso de açúcar irá provocar uma sobrecarga do sistema: onde os circuitos já estavam calibrados para funcionar bem, vão-se provocar acúmulos que entupirão o normal funcionamento da instituição.
Visto neste sentido, as experiências curtas de voluntariado implicam um esforço grande por parte da instituição para acolher, encontrar necessidades para aquelea voluntários resolverem, organizá-los, integrá-los na estrutura e dar-lhes os conhecimentos necessários para que possam ser úteis.

Este esforço justifica-se como "investimento reprodutivo" que dê experiência e sentido vocacional aos voluntários: que os entusiasme e habilite a um compromisso mais duradouro.

Desta forma, assumir um compromisso onde e quando é necessário, passa pelas próprias instituições, que devem ter a capacidade de pedir ajuda, passa pela atenção dos voluntários em perceber as necessidades que existem e passa por uma disponibilidade diferente, que vá além do tempo que me sobra e entre no tempo que é preciso dar.

De que serve dar um bolo de arroz a quem comeu se negarmos um prato de arroz a quem tem fome?